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Hemorróida

Hemorróida

Dr. Jorge Alberto Ortiz

Todos conhecemos alguém que já passou pelo sofrimento da primeira evacuação após uma cirurgia de hemorróida, isso quando não passamos nós mesmos por esta dor.

A lembrança é fatalmente a mesma: ou a passagem de um abacaxi pelo corte, ou de um gato com as unhas para fora, ou de um gato com as unhas para fora segurando um abacaxi.

Felizmente, com o tempo, esta lembrança é esquecida. Entretanto existe um "fantasma" que assombra os indivíduos que se submeteram a cirurgia de hemorróida: a incontinência fecal, que nada mais é que a perda involuntária de fezes; mas comumente causada por danos aos músculos anais - assoalho pélvico - decorrentes de trabalho de parto prolongado (podendo manifestar-se até 50 anos após), ou pela constipação intestinal crônica, pela lesão ao nervo pudendo-nn que inerva os músculos anais ou pelo próprio envelhecimento do corpo  que também afeta o sistema de evacuação.

É um sintoma pouco comentado aos médicos e familiares por ser extremamente embaraçoso, passando o portador desta enfermidade a levar uma vida reclusa.

Embora o fator causal seja por dano ao nervo e aos músculos anais, o fator desencadeante desta enfermidade são as cirurgias artificiais: hemorróidas, fissuras e fístulas em até 50% dos casos.

O tratamento da incontinência anal inclue desde alimentação e remédios para tornar as fezes mais consistentes, remédios que retardam a velocidade das fezes pelo intestino grosso, tampões anais, técnicas de retreinamento esfincteriano (biofeedback), aplicação de silicone ou carbono no canal anal, até cirurgia. Infelizmente, mesmo a associação de todas estas técnicas não permite o retorno a continência anal normal, garante apenas uma melhora na qualidade de vida do paciente.

Ora se sabemos que o fator desencadeante da perda fecal são as cirurgias anais, e que a maioria dos pacientes com incontinência anal são mulheres que tiveram parto "normal" ou fórceps, aquelas com trauma no trabalho de parto, parturientes com peso elevado do recém nascido ou multiparidade, visto que o dano é cumulativo; uma atenção redobrada deve ser dada a este tipo de pacientes, através de exames especializados que podem detectar a presença de lesões nos músculos anais e associação com esta doença para que a cirurgia seja minimamente invasiva ou seja substituida por outras opções na tentativa da prevenção da incontinência fecal.

Agora surge a pergunta: - Estas técnicas existem? E a resposta é afirmativa: - Sim!

Para casos de hemorróidas existe uma nova opção de cirurgia realizada com um grampeador mecânico no qual não há uma abordagem direta da hemorróida, sendo realizada por dentro do reto que localiza-se acima do anus onde as hemorróidas se localizam. Esta técnica consiste na recolocação da hemorróida em seu local habitual e o fluxo das hemorróidas, que são vasos sanguíneos, é reduzido. A grande vantagem em relação a técnica cirúrgica para hemorróida convencional é que é quase indolor e pode ser utilizada em todos os tipos de hemorróidas e por não abordá-la diretamente não causa danos aos músculos anais.

Estudo realizado por nós na Santa Casa de São Paulo com a presença dos melhores proctologistas do Brasil revelou que 55% dos pacientes operados de hemorróidas pelas técnicas convencionais apresentam dor intensa no pós operatório comparados com apenas 5% dos pacientes submetidos à anopexia mecânica.

Para a fissura anal que é um corte no ânus, geralmente causado pelo esforço ao evacuar, ao invés de realizarmos um curte em um dos músculos anais (cirurgia tradicional), é aplicado o botox - toxina botulinica, que tem o mesmo efeito da cirurgia tradicional, só que o "corte"no músculo do ânus é realizado de forma química e é reversível em seis meses. A vantagem é que pode ser realizada em consultório e não causa incontinência fecal.

Já para o caso de fístulas que são orifícios próximos ao ânus que se comunicam com o reto ou ânusm e cuja cirurgia consiste na realização de uma abertura no trajeto de comunicação entre os orifícios. A nova técnica consiste na passagem de um plug anal por este trajeto ocluindo os orifícios interno e externo e o trajeto entre ambos.

Concluindo: a cirurgia de hemorróida não precisa ter um período pós-operatório tão doloroso, e quando possível, técnicas modernas podem e devem ser usadas pois além de eficientes não causam danos aos músculos anais previnindo o inconveniente que é a perda fecal pós o tratamento desta doença.


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